quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Foto e poesia


Boneca de pano
Boneca de pano dos olhos de conta,
vestido de chita,
cabelo de fita
cheinha de lã.
De dia, de noite, os olhos abertos,
olhando os bonecos que sabem marchar,
calungas de mola que sabem pular.
Boneca de pano que cai:
não se quebra, que custa um tostão.
Boneca de pano das meninas infelizes que
são guias de aleijados, que apanham pontas
de cigarro, que mendigam nas esquinas, coitadas!
Boneca de pano de rosto parado como essas meninas.
Boneca sujinha, cheinha de lã.
Os olhos de conta caíram. Ceguinha
rolou na sarjeta. O homem do lixo a levou,
coberta de lama, nuinha,
como quis Nosso Senhor.

Jorge de Lima
(1893-1953)


Um comentário:

  1. Que linda poesia!
    Eu tinha muitas bonecas de pano...
    As minhas preferidas, minha vó
    que fazia *-*

    Que lindo texto...
    Me fez lembrar de coisas lindas de morrer...
    Obrigada!

    http://passaro-de-inverno.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir