domingo, 7 de junho de 2015

Imagem no espelho

Ao tocar sua imagem no espelho algo se quebrou em seu peito, milhares de fragmentos voaram por todos os lados, pedaços desconstruidos que se acumularam durante sua vida.
Cada rastro desses minúsculos pontos escorriam por seu corpo, quente e viscoso como sua última lembrança.
Uma mesa, duas cadeiras, um homem, uma mulher, um candelabro dourado, duas velas, um homem, uma mulher... Outra, não ela mas outra que tomava o seu lugar. Um beijo furtado, segredos partilhados, traição, coração partido escorrendo viscoso.
A imagem no espelho já não era tão jovem, possuía a beleza discreta da maturidade, cabelos cor de areia penteados discretamente para trás, os lábios eram pequenos, maçãs do rosto salientes, discretas rugas já se formavam mas os olhos, sim, continham a mesma beleza e vivacidade da mocidade que estranhamente parecia tão distante.
Mas a jovem que ocupava o outro lugar na mesa possuía aquele viço tão desejado mas que jamais voltaria, a jovem possuía também o olhar de admiração que a muito ela não sentia em si, não vindo dele.
Mas o sangue em suas mãos mostrava que tudo estava acabado, não mais sofreria a dor da rejeição, a imagem no espelho não mentia, acabou.
Deitado, olhos vidrados, ainda surpreso, ele que não mais admirava os olhos quentes que um dia tanto amou, pouco a pouco adormecia em um sono eterno, e aquele mesmo olhar o contemplava do outro lado pelo espelho tocando o rosto amado pela última vez, arma em punho, sangue nas mãos, morte e vida em um mesmo ambiente, mais um ruído e estava feito, ela que sempre o teve não suportou a solidão daqueles minutos sem ele.
Romeu e Julieta reinventado, outra tragédia humana. 

3 comentários:

  1. Com o perdão do palavrão mas... pu-ta-que-pa-riu tchê!!!
    Que texto incrível! E que final!
    Tu não tem noção, meu coração tá pulando!!!
    Fiquei de boca aberta! :O

    Um beijo.

    http://momentosdelucidezenemtanto.blogspot.com.br

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  2. Bom dia querida Carol..
    uma bela transcrição a relatar uma história que ainda não pude ler..
    só ouvi por cima a mesma..
    mas tudo muito bem detalhado..
    quando nos entregamos ao que escrevemos baseados no nosso observar as cosias saem belas..
    bjs e feliz sempre

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  3. Lindo conto!! Amei a intertextualidade com o clássico de Sheakespeare e os elementos fantásticos!!

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